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domingo, 1 de dezembro de 2013

Cena Urbana 5

Faz tempo que quero compartilhar esse fato que ocorreu na minha vida, mas tem me faltado tempo junto com preguiça. Mas é um fato que com certeza vou me lembrar pro resto da vida de tão marcante que foi...
Todo ano a emissora onde trabalho faz um programa para arrecadar fundos pra um hospital especializado em câncer infantil e nós, funcionários, podemos nos voluntariar pra ajudar no backstage desse programa e desde o primeiro ano que comecei a trabalhar lá tenho me voluntariado porque é algo que me faz bem, muito por estar colaborando com uma causa nobre por mais indiretamente que seja, me emociono todo ano com o final, e muito por me fazer vencer barreiras com minha timidez porque sempre me colocam na função de cuidar de alguma artista por mais sub-da-sub-celebridade que ele seja rs.
Pra dizer a verdade nunca gostei muito desse lance de ficar lá pajeando o artista, pra quem tá no meio, um artista é tão natural quanto uma pessoa comum. Não consigo dar pitis de querer abraçar, tirar foto, pode ser porque até hoje não foi nenhum artista que eu admire, ou acompanhe rs, mas sei lá, acho eles tão normais que não me sinto útil fazendo isso, prefiro ficar reabastecendo bebidas ou algo do tipo mais funcional sabe. Whatever... Esse ano me mandaram cuidar de um artista que só chegaria próximo ao fim do programa, e quando cheguei mais cedo na emissora pra ajudar, encontrei duas colegas na porta e resolvi ficar por ali mesmo, recepcionando o pessoal que tava mais perdido que a gente. Confesso que pela primeira vez me senti ajudando de verdade.
Bom, na correria de sobe escada e desce escada, me deparei com uma senhora e sua filha no portão da emissora contando pra minha amiga que estava rodando a cidade desde as seis da manhã porque a filha queria ver um artista, que a menina perdeu aula por causa disso, que era muito fã, escrevia cartas, o sonho dela era conhecer o artista e tal.
Fiquei lá na recepção enquanto minha amiga subiu, e então a senhora começa a me contar todo o drama da filha que queria conhecer o tal artista, me conta dos outros artistas que a menina sonha em conhecer, nas loucuras que já fez no ano passado. Ao ouvi-la contando, lembrei muito de mim, quando tinha dezesseis anos e ficava também naquela ansiedade e loucura pra ver os artistas que eu gostava e o quão realizada eu ficava quando conseguia abraçar, tirar uma foto, dar bombons e o quão frustrante era quando não conseguia vê-los. Comentei com a senhora sobre minha fase, e disse que ela estava certa em apoiar a filha porque depois a gente cresce e perde a vontade de fazer essas loucuras por alguém que admira e pode se arrepender de não ter feito na época certa. Enquanto eu dizia, via o rosto aflito da menina naquela ânsia se ia conseguir ver ou não o artista, e a mãe emocionada e preocupada com aquela situação. Por ironia do destino, a filha dela se chama Larissa também.
Tive de subir as escadas, e combinei com minha amiga que daríamos um jeito daquela menina ver o artista. Voltamos na recepção e dissemos que elas poderiam esperar o programa acabar porque ele estava apresentando ao vivo e não dava pra chamá-lo naquele momento mas que não poderíamos dar certeza que ele viria. Pelo artista em si, todo fofo e simpático, tínhamos certeza que toparia, mas tinha uma "assessoria" junto com ele que poderia barrar. Elas concordaram em esperar mesmo que tudo incerto ainda e olha que faltava um bom tempo pra acabar.
No sobe e desce de novo, aparecerem mais cinco pessoas querendo ver o mesmo artista, dentre elas uma senhora bem idosas e uma deficiente mental. Entrei numa sinuca de bico, porque a ordem era não deixar tumultuar gente na recepção devido a grande circulação de pessoas no dia. Mas gente, como posso deixar uma senhora esperar em pé e na rua? Entrei em consenso com as amigas e deixamos elas lá junto com as outras duas, afinal também toparam esperar na incerteza. Minha vontade era levar água, levar comida, ficar lá assessorando elas e não um artista rs. Sei lá, me solidarizo com os telespectadores desde que entrei nesse mundinho.
Acaba o programa, e junto com uma amiga, porque minha coragem era grande mas minha capacidade não muito, fomos ao estúdio chamar o tal artista. Ele foi bem assediado pelo pessoal e quando finalmente ficou "livre" minha amiga pediu pra ir na recepção e explicou que tinha gente lá esperando desde cedo e tal. Na hora ele se prontificou a ir. Acredito que ele estava com fome, querendo ir ao banheiro, mas foi na hora em que pedimos sem nem pestanejar.
Na hora em que o artista apontou na porta, a menina Larissa deu um grito, tampou a boca, chorou e correu abraçá-lo. Ela ficou tão em choque, que ficou timida. Tivemos que dar um "chacoalhão" e falar pra ela tirar a foto que tanto queria rs. A mãe tava que só chorava. E por fim, a mãe quis tirar foto da filha comigo e com minha amiga em sinal de gratidão, disse que ia por no Face  e me achar por lá rs. As outras pessoas que também estavam esperando o artista ficaram felizes, emocionadas mas não tanto quanto a menina.
Pronto, lavei minha alma. Me senti tão bem ao ver a alegria da mãe e da sua menina com um ato tão simples que pude colaborar, senti admiração grande pelo artista que sorridente atendeu aquelas pessoas, cumpriu bem seu papel de apresentador, e mostrou solidariedade ao falar da causa nobre que colaborou em rede nacional quando teve oportunidade. 
Terminei mais um evento beneficente, mas que dessa vez foi diferente. Colaborei duas vezes sem querer e com mais utilidade que nos outros anos, bem mais utilidade. Hora de ir embora.
E quando eu achei que o dia tinha sido marcante o suficiente, ao passar pela recepção, a menina Larissa vem me dar um abraço apertado de tchau que mais me pareceu um abraço de gratidão.
Fui embora assim, pensando no caminho que eu não tinha feito nada demais pra mim, mas que pra menina  pareceu que fui eu quem realizei o sonho dela ao invés do artista, e concluí que eu ainda amo o que faço, e amo mais ainda saber que graças ao local onde trabalho eu posso de vez em quando me deparar com histórias assim e fazer parte delas.
Essa simplicidade das coisas ainda me surpreende e me encanta muito.
Alma leve, alma lavada. 


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